quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

No Pirulito Bissexto!

 
E aí?... 29 de fevereiro, né?! Ou será melhor começar assim: Aos 29 dias do segundo mês do 2012º Ano da Graça Bissexta Tupiniquim, a vida recomeçou recomeçando, mas para uns nem isso e, para outros nem tanto! Então, bora... ir ao Coração da cidade. Mais precisamente receber as merrequinhas mensais e dar um rolé....

No Pirulito Bissexto! I
     Então, aos 29 de fevereiro do 2012° Ano da Graça*¹ da Era Cristã, eis me acordando e me dando conta que é dia de pagamento pra mim e, pra considerável parcela de funcionários públicos desta comarca. 
     O sol já estava de rachar mamona e nada de frutificação no pé de jabuticaba do vizinho. Estava eu ainda tomando o meu café da manhã, quando o casal de pardaizinhos... Em tempo: corrigindo a pedidos – quando o Sr. Pardal e Sra. Pardaloca vieram catar migalhas na mesa da cozinha. Bem que tentei convencê-los que migalhas humanas fazem mal a animais silvestres, mas eles desviaram habilmente a conversa, alegando que em ano bissexto + previsão de fim do mundo na versão maia*² faziam um mal maior às expectativas de longevidade humana. A pardalzinha, quer dizer, a Sra. Pardaloca, ainda ousou recomendar essências naturais para combinar com meu esvoaçante visual de verão. 
     Ora vejam, prezados (as) leitores (as), o que acontece quando a gente dá atenção a esses pequenos seres da natureza: no início é aquela timidez de sair vazando assim que avistam a gente; depois já começam se aconchegando aos pouquinhos, fazendo-se de tolinhos e; quando a gente se dá conta, já estão se arvorando em filósofos e conselheiros da última hora... 
     Pois é... 29/02/2012... E lá vou eu fechando as janelas, fazendo a verificação da segurança da casa e saindo tomar o coletivo urbano que me levaria ao centro, ao Coração da cidade – não antes de ouvir os últimos pitacos de Dona Pardaloca: 
     ─ Hei, humana! Já passou filtro solar? Tá levando leque? Água? Sombrinha? Casaco? Documentos? 
     Tantas recomendações que já ouço minha filha em alto e bom som: 
     ─ Nossa! Tá parecendo a minha mãe!!! 
     Então... Às 09h15 mins. do dia 29 do segundo mês do 2012º Ano da Graça Bissexta Tupiniquim, aporto no coração desta cidade do vale do Paraibuna! Mais precisamente no banco, onde uma considerável parte dos funcionários públicos municipaes’² recebem o pagamento nosso de cada mês. Um sol de rachar maquiagem de estátua humana, de encher bolsos de vendedores de garrafas de picolé, e de espantar o Sr. Antonio Violeiro, do Calçadão*³... 
     Falando nisso, os seus rios de gente, na montante e na vazante, se pororocaram com o mar de pessoas na Avenida do Barão e me arrastaramm até o Parque, e eu me agarro ao Pirulito, mais para dividir a sombra com um emo-nerd hardcore **do que para saber as horas ou a temperatura... 
    Aliás, aquele montinho de gente, que se redemoinha cotidianamente ali, tem uma reclamação a fazer às autoridades desta cidade: 
     ─ Não é por se tratar de ano bissexto nem porque os maias*² previram o fim do mundo aqui e agora, é que vamos tolerar nosso espaço particular de encontros estar ocupado por esta barraca tupiasteca-incaguarani’¹, ainda por cima às sombras das nossas palmeiras!    
     ─De que mística cidade ameríndia ou distante civilização meteórica surgiram aquelas figuras, poções mágicas e artefatos tipo exportação? 
     Pois é... Isto tudo sem contar que afugentaram nossos fornecedores de guloseimas e, ainda por cima zuretaram nossos amigos artesãos – tanto os dos boxes oficiais como os que ficam no chão... Que concorrência desleal! Podes crer!

cara...
No Pirulito Bissexto!! II
E aí?... 29 de fevereiro... Lembra? Aos 29 dias do segundo mês do 2012º Ano da Graça Bissexta Tupiniquim, a vida recomeçara recomeçando, mas para uns nem isso e, para outros nem tanto! Então, fui ao Coração da cidade. Ao banco mais precisamente e recebi as marrequinhas mensais e fui solenemente arrastada ao Parque e...
      Pois é... Aos 29 de fevereiro do 2012º Ano da Graça*¹ da Era Cristão, eis me diante do enigma e da atração ameríndia, bem debaixo dos olhos das repartições e autoridades municipaes’²: uma barraca de artefatos, poções mágicas e figuras vindas não sei de qual mística civilização meteórica. Ou serão espiões dos Maias*² a conferir os efeitos de sua maldição, numa simples cidade do vale de Paray-una ‘³? Talvez planejem voltar a ocupar a terra aqui no Parque, sem permissão do Sr. Halfeld e seus conterrâneos? 
      Já tou ouvindo minha filha dizer: 
      ─ Minha mãe e suas teorias conspiratórias! 
     Mas, caro (a) leitor (a), a que atribuir esta invasão do nosso novo marco histórico, o Pirulito? Aonde eu e os outros jovens desta cidade marcaremos nossos encontros, agora? A reclamação é geral! 
     Palmeiras me confidenciaram que estão muito preocupadas com a preservação das espécies locais, dada a exploração predatória de ervas. Artesãos – tanto os dos boxes oficiais como os que ficam no chão – estão inquietos, afinal a concorrência é desleal! Até os vendedores de picolé e outras guloseimas deram sinal de que o consumo caiu, dado que a oferta de curas milagrosas expõe os efeitos negativos de delícias sobre a raça humana!   
    Isto tudo sem contar o fato de que a cabine dos meganhas – quer dizer – dos Srs. Policiais – está vazia. Cidadãos da melhor idade – senhoras de cabelos retocados e senhores de olhar prateado – se embolam entre as outras árvores, espiando a situação por debaixo dos óculos. 
   Até no outro lado do Parque, o povo que aguardava os advogados – defensores públicos ou não – na porta do fórum municipal, fazia piadas: 
    ─E aí, Fulano? Se não resolver na vara cível, vai buscar uma porçãozinha lá barraca dos índios, que esta não falha! 
    ─ Quem tá precisando de porcãozinha mágica é tu, Beltrano, que eu sei!
   ─ Ocês larga mão de tá caçoando dos outros que eles te jogam uma praga – adverte Dona Sicrana – e praga em ano bissexto pega! 
    Ih!! Há mais teorias da conspiração que supõe a nossa vã filosofia, minha filha! 
    Caro (a) leitor (a): A coisa tá ficando bissexta demais pra mim... Podes crer! Então... às 11h45 min. desse quaternário dia, melhor aproveitar a vazante em direção ao Largo’’. Já que eu e minha filha desmarcamos o encontro, dado o sol de rachar mamona e secar jabuticabeira estéril, vou me mandar pro supermercado. 
    Vou comprar umas guloseimas, que a gente só compra no último dia útil do mês, mesmo que seja no 2012º Ano da Graça Tupiniquim ou da Desgraça Maia. Sinto muito por eles, mas vou depois me atirar num táxi, rumo ao “Silêncio dentro do silêncio”’ do Monte Castelo. 
    Espero que eu chegue a tempo de impedir Dona Pardaloca de se empanturrar com o arroz da panela, que esqueci em cima do fogão. Que Deus me livre de iniciar a destruição do planeta, logo pelos meus vizinhos, que, aliás, já têm um filhotinho. Eu me esqueci de dizer que ouvi os chiadinhos dele, no telhado do vizinho... Sinto muito pelos Maias*², mas a vida continua aqui e em outros vales, ainda que bissexta, até no Pirulito!!!
 *¹ - Ano Graça – expressão que substituiu o Anno Domini do calendário juliano e gregoriano.
*² Maias – extinta civilização ameríndia entre o México e a Guatemala, desde os anos 750 0u 1050 a.C.
*³ - referência a artistas e autônomos tradicionais do Calçadão.
** - expressões que indicam comportamento e preferências da geração WYZ.
‘¹ - referências às nações e povos indígenas da América Latina.
‘² - grafia antiga do plural da palavra municipal, conforme está no antigo prédio da Prefeitura.
‘³ - Nome indígena do Rio Paraibuna, significa rio das águas escuras.
”– Largo do Riachuelo, onde Avenida Rio Branco se encontra com a Avenida dos Andradas.
‘’’ – Referência a poema de autoria do Sr. Carlito Filho, morador do bairro Monte Castelo, em JF.
                                                Izabel Cristina Dutra - escrito em JF, em 29/02/2012.

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