sexta-feira, 30 de março de 2012

Andando pela cidade....


Então... Março já vai passando... O outono tá esquisito... Parece que vai chover... Meus médicos e a minha filha não recomendariam, mas eu tenho resolver umas questões dessas que só o (a) cidadão (ã) tem que ir pessoalmente... Aí eu fui e fiquei...
Andando pela cidade... I    
     Pois é... Aos 28 dias de um março quase bissexto do 2012º Ano da Graça cheio de previsões – umas boas, outras ruins e muitas “nem tanto” – lá vou eu, para o centro da cidade resolver aquelas coisinhas que o (a) cidadão (ã) tupiniquim tem que resolver pessoalmente... 
      Não! Caro (a) Leitor (a), não adianta mandar procurador, nem padrinho e nem QI*... 
     Então... Apesar deste outono esquisito e quente, que finge chover aqui e finge não chover acolá, eu fui... Já tou ouvindo a voz deles: 
     ─  Olha! Dona Izabel, evita multidão e dias de chuva porque se lhe alguém lhe empurra ou a Sra. escorrega...  
     ─  Manhê... Não fica andando na chuva! Quer que eu vá pra vc.?  
     E vcs. querem me explicar como evitar multidão nesta JF, cidade-vale e polo de tudo quanto há? E para esses casos, nada de intermediário! 
     Inda bem que o casal de pardais não têm vindo catar farelos aqui na minha cozinha, senão Dona Pardaloca ia ficar recomendando: 
     ─ Hei! Humana!... Já passou filtro solar? Batom e brinquinho? Leva o casaquinho e a sombrinha que vai chover... Frutinha na bolsinha para não comer porcaria na rua?... 
     É mole? E tem mais descobri que eles comendo as migalhas humanas, só que na cozinha da vizinha... E por falar nisto, hoje escutei um meio trinado mais uns chiados, na janela dos fundos... E descobri Dona Sabiá se abrigando nas folhagens da jabuticabeira do vizinho... Por que ela não partiu com os outros sabiás? Vai ver que é por isso que essa jabuticabeira não dá frutos... Ela se preserva para ser abrigo de pássaros que se negam a migrar... 
     Vê se pode! A gente se mete a entender mistérios da natureza e ainda por cima perde a hora de sair e o rumo da prosa! 
     Pois é... Aí... Então eu fui ao centro da cidade... Primeira parada: Av. dos Andradas com a Av. do Barão, justo ali perto do Largo e da praça que fica em frente do shopping que já foi fábrica e da Farmácia Homeopática Zander e aonde funcionou o Jardim de Infância Mariano Procópio**... 
     Ah... Ainda bem... Elas ainda estão lá... Eles também... Elas? Eles?... Daqui eu pouco eu digo...

Então... Aos 29 dias de um março quase bissexto do 2012º Ano da Graça, tô aqui em casa ouvindo o trinado de uma sabiá que se recusa a partir... Ontem, eu tinha chegado ao Largo, no centro da cidade... Lembra? E fiquei aliviada porque Elas e Eles ainda estavam lá... Lembra? Elas? Eles? Não sabem? Então só...
Andando pela cidade... II   
      Pois é... Então... Eu cheguei lá e a primeira coisa que verifiquei não foram os preços das lojas em promoção de verão, no shopping que já foi  fábrica... 
     ─ Não, caro (a) leitor (a), eu quis saber se Elas e Eles ainda estavam lá... 
     Elas? As árvores do Largo e da praça... Lindas!... Fonte de energia e sombra pra dar e vender... Eu não consigo deixar de olhá-las e parece que elas sabem disso... Sempre se agitam quando passo, e de vez em quando eu levo um banho de folhinhas tenras e florzinhas miudinhas que mal desabrocharam... Vcs. sabiam que algumas ou muitas delas serão cortadas? 
     Não sei pra que nem por quê? Dizem que faz parte das obras que atormentam o sono do Barão do Rio Branco***!! Fiquei sabendo no face *1... E um amigo que encontrei no Pirulito me confirmou... Eu tô arranjando um jeito de impedir... Não sei como ainda... Talvez eu faça igual aquela moça do filme e me agarre a elas, na hora do corte... Talvez Eles se encorajem e me ajudem... 
     Eles? Os que ficam sob a sombra daquelas árvores! Os andantes, passantes e ficantes daquele logradouro... Vcs. sabem quem são... Chamo de andantes àqueles que ficam entre a banca e a cabine dos “meganhas”¹ ... quer dizer dos Srs. Policiais... 
     Humhum! Aqueles mesmos! Profissionais liberais e informais que prestam as mais variadas consultorias e só não vendem a mãe, porque isso não se faz nem no Brasil, que “ce n’est pas un pays serieux”²! (em francês mesmo). 
    Chamo de passantes aqueles que descem do ônibus e se apressam porque o “lugar está cheio de meliante e pivete da pior espécie!”³, que eu chamo de ficantes – não no sentido moderno da palavra. 
    É que eles ficam ali – uns só de dia, outros só de noite e outros, dias e dias a fio... Alguns vão pernoitar no Albergue #. Não consigo deixar de olhá-los... Parecem que eles sabem disso e alguns já me saúdam à distância, mas o bastante para que nossos olhares se encontrem e nos reconheçamos...  
    Pois é...  Pode ser que me engane... Mas tem dias que eu vejo, entre eles, alguma ex-vizinha ou algum ex-aluno, o pai de algum amigo de infância ou um parente distante de não sei qual grau! E isto dói, até depois que eu atravesso aquela longa faixa de pedestres entre a Av. do Presidente e a do Barão!
    ─ Não sei porque! Tão aí porque querem –  arenga*³ acidamente a Sra. Nem tanto – Ao invés de caçar trabalho, ficam aí se drogando e se pros.... Cala-te, boca!... 
    Mas mesmo assim  dói, dona! Porque sei que muitos não querem voltar pra casa, porque casa já não há!  E em tem mais força pro trabalho, porque trabalhar em quê? 
    Quer saber... Fui atravessando aquela faixa bem depressa... Na verdade, com a pressa que as minhas 3 pernas me permitem agora! Subi a São Sebastião e fui à sede do SINSERPU*³ e depositei o meu voto na urna. Saí mais apressada ainda, porque o clima estava mudando e eu tinha umas ou três coisas para resolver. 
     E quando vi, eu estava no coração da cidade, aonde os rios de gente do Calçadão se pororocam com o mar de pessoas da Av. do Barão e depois inundam o Parque, ou se enroscam no Pirulito, o novo point de encontros da cidade, no bom e no mau sentido...  
     Como eu tinha que esperar a volta do almoço das repartições públicas, Eu também fiquei por lá uns quarenta minutos, conversando com um amigo. Mas isto eu conto depois porque tá armando uma chuva daquelas, e o 112 encostou no ponto, e vou em direção contrária, lá na gráfica tratar de detalhes da produção do livro... Depois!... Depois!...

Então... Aos 3o dias de um março quase bissexto do 2012º Ano da Graça, eu estou aqui em vendo dona Pardaloca se acabando com os farelos da vizinhança, neste outono que finge chover de um lado da cidade, e não chover no outro! Anteontem, eu tinha chegado ao Largo, no centro da cidade... Lembra? E fiquei aliviada porque Elas e Eles ainda estavam lá... E depois açodada pelo asco da Sra. Nem tanto, arravessei uma longa faixa para pedestres... Lembra? Pois é... Acabei no Pirulito, fiquei conversando com um amigo, e depois me mandei no 112, pro outro lado da cidade porque aquele era o dia de eu ficar...
Andando pela cidade... III    
     Então... Eu tinha passado no Largo, onde pretendem cortar árvores, segundo a crônica popular e eletrônica... E aonde deveria haver uma limpeza étnico-social, segundo a ideologia quase que nazista da Sra. Nem tanto... 
     Aí depois de votar, eu fui parar no Pirulito.  Encontrei um amigo e conversamos. Conversa vai e conversa vem, o tempo começou a girar e ia cair uma chuva daquelas. 
     Aí eu tomei 0 112 que me levou para um coração alternativo desta cidade-vale – aquela região indefinida entre o Mariano Procópio, o Manuel Honório e o Santa Terezinha*£... 
     Bem a tempo! Porque começou a pingar assim que entramos naquele pedaço da Av. Brasil e depois virar a Rua do Águia de Haia**£... A conta certa de entrar naquela travessa ou beco ou... É aonde fica a agência dos Correios dali e a gráfica que vai produzir o meu livro... 
    Antes que engrossasse a chuva, entrei. Lá conversei com Walmer, que é o designer, e lhe passei o material. Deixei recado pro  Ignácio. 
    Quando saí, a chuva estava fininha e agira sim: uma chuva bem outono, fininha bailando ao vento quase brisa...  Mas quando fui atravessar aquela ponte, ela engrossou e uma paisagem, que eu não admirava, me deteve... O ciso me disse que eu deveria buscar abrigo na marquise mais próxima... Mas o espetáculo de um rio em dia de chuva é de parar um (a) cidadão (ã) tupiniquim ou não: diante mim, o Paraibuna com suas águas escuras, revoltas e apressadas, recebendo o refrescante recurso de uma chuva de outono! 
As árvores – que espero não estejam na previsão do corte para não sei que obras – dançavam e atiravam folhinhas, como se fossem confetes que pudessem fazer esquecer a água preta de alguma saída de esgoto , as garrafas pets portando todo o verme possível e sacolas redemoinhando em torno de um bicho morto... 
     Um desgosto amargo (assim mesmo!) me veio à boca... Não pelos pés molhados naquela sandália rasa... Nem pelo vento úmido que tentava arrancar-me a sombrinha... Mas por sentir o esforço supranatural do natural pela sobrevivência... 
     ─ Ah Paray-una... Quando é que esta gente, que se apossou do teu vale, descobrirá que sem ti, nós é que sucumbiremos?! 
      Pois é... Se eu não estivesse tão cansada, talvez eu me atreveria a esticar a caminhada pra ver se Elas ainda estão lá! Mas aquela porcariinha que comi lá no Centro não substituiu o almoço... 
     E já são 2 horas da tarde!Hora de tomar o 602 na próxima esquina pra voltar pra casa, e parar de andar pela cidade...  E foi o que fiz.    
     E quando entrei no coletivo, o motorista e eu nos cumprimentamos e o trocador brincou: 
     ─  Corre, dona... Olha a enchente das goiabas, aí!!!  Goiabas, goiabada com queijo... 
     Esta lembrança me deu uma fome!!! Então entabulamos uma conversação que começou nas enchentes das goiabas, passou na preservação e na sustentabilidade do planeta, e terminou numa receita diet e light de goiabada para diabéticos, o que me convém! 
     Ah... Elas? As capivaras! Aquelas que fazem o espetáculo na margem esquerda do rio, bem perto daquele terminal rodoviário... Mas depois eu conto...
     Ah... O que conversei com aquele amigo, no Pirulito? Depois... Depois!

*- QI – sigla de Quem te indicou, uma forma bem brasileira de explicar o tráfico de influência; 
** - Referência à antiga Fábrica de Tecidos Santa Cruz, Zander-antiga farmácia homeopática na Rua Roberto de Barros,  gerida família imigrante italiana;Jardim de Infância Mariano Procópio , nos anos 60, era uma das poucas escolas especificamente para a fase pré-escola,;
*** Barão do Rio Branco, título nobiliárquico de José Maria da Silva Paranhos, - geógrafo, historiador e diplomata brasileiro, que nomeia ruas, avenidas e escolas em algumas cidades do país; 
*¹ -  Referência a Face book, rede social  na Internet criado em 2004, por Mark Zurkerberg; 
*² - arengar – reclamar continuamente, ranzinzar;
 *³ - Sinserpu – Sindicato dos Servidores Públicos  Municipais de Juiz de Fora/MG;
*£ -  Bairros centrais que levam à região Norte e Nordeste de Juiz de Fora;
 **£ - Águia de Haia, título de Ruy Barbosa – diplomata, jurista, político,escritor. filólogo, pensador e orador brasileiro – 1859/1923;           “¹ - meganhas – termo popular usado na décadas de 60 e 70 para designar policiais e militares ;
 “² - “ Le Brasil  ce n’ est. pas un pays serieux! – frase de Charles De Gaulle, general, político, estadista e presidente francês (1890/1970) ;
“ ³ – pivete e meliante – expressões usadas em colunas e manchetes policiais para indicar infratores menores e maiores de idade;
 # - Albergue - Centro de Atendimento ao Cidadão de Rua - Rua Calil Ahouagi, 592 - Centro de JF/MG.
Izabel Cristina Dutra, escrito e re-escrito em JF, entre os dias 28 e 30/03/2012.

   

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