E aí?... Abril já vai se acabando... E outono parece que
agora se deu conta de que ele é uma meia-estação... Na semana passada eu também
me dei conta do grande paradoxo temporal da humanidade...Lembra? E uma
grande dúvida assolava os pensantes do Monte Castelo e todas vertentes do Vale do Paraibuna e adjacências... A pergunta
que não queria calar era...
E se não houver amanhã?... I
Então...
Abril já vai se acabando... Agora temos um outono convicto de ser uma
meia-estação... Céu cinzento mesclado de matizes entre o azul, o rosa e o
amarelo. E na última semana: sabadão, feriadão pra uns e feriadinho pra
outros...
Mas na semana passada, uma grande dúvida assolava a mente dos
pensantes do Monte Castelo e todas as vertentes do Vale do Paraibuna e adjacências*¹,
e a pergunta que não queria calar:
─ E
se não houver amanhã?...
É... Caro(a) Leitor(a)... Estávamos todos à beira de
um abismo filosófico! Exceto, Dona Pombinha Rola que se contentava em arrulhar:
─ Amanhãeuvooou!
Fato que irritava uma
certa dona de casa que arengava o tempo todo com o marido:
─ Amanhã... Amanhã... Tudo pra vc. é amanhã!
Lembra? Pois é... Acontece que houve o amanhã...
E não foi unzinho só não...
─ Houveram vários amanhãs!... – como diria um certo
entrevistado de noticiário de TV.
E num deles, eu tive levantar às 5hs. da
madruga para fazer exames, desses que todo o portador da DM tipo 2*² tem que
fazer para controles, para laudos e perícias. Já passava das 6 e meia quando 0
coletivo 602 alcançou a Praça do Largo – aquela que fica entre as Avenidas do
Barão e a dos Andradas, a Rua Roberto de Barros e o shopping que já foi fábrica*¹...
O Condomínio Monumento ao Exército Brasileiro ou aos Pracinhas demonstrava
ocupação máxima na noite anterior, a julgar pelo nº de silhuetas envolvidas em
cobertas alternativas, apesar de ter raiado o dia. Alguns moradores já faziam o
desjejum – se é que se pode chamar de desjejum uns restos de refeição misturada
com fragmentos de papel-alumínio, devorados sob a chuva fria!
O escritório
informal de consultorias e marketing direto já estava funcionando a pleno
vapor!
─ Que escritório é esse?...
─ Uai, prezado (a) leitor (a), vc. não sabe?
Sabe sim! Aquele onde só não se vende a mãe, mesmo que seja
mãe-joana*², porque isso não se faz nem no Brasil, que “ce n’est pas un pays
serieux” ¹
Ah! deve-se ressaltar que a cabine dos meganhas*²... Ops! A cabine
dos Srs. Policiais estava vazia... Pois
é... Aí, eu tava indo fazer exames...
E fui! Ao chegar no PAM Marechal*³, a
fila estava virando em direção à Agência Central dos Correios*³... E ambos os lugares a a prioridade só começa a
valer da porta pra dentro.
─ E tava organizadinha? E lá dentro funcionado tudo
direitinho?
─ Ora, queridíssimo (a) leitor (a), não me faça pergunta
difícil!...
Ainda mais às sete da manhã, em que pra piorar tudo me surge uma Sr.ª
Nem Tanto, tentando furar a fila e lançando comentários e olhares
discriminatórios a todos... Sem contar com a previsão amarga de um apressadinho, lá no
começo da fila:
─ Desse jeito, a gente só vai ser atendido amanhã de
manhã!
E
o pior dos piores, houve um
retardatário que ousou retrucar:
─ E se não houver amanhã? Pronto! Aconteceu de
novo... Instalado nas mentes vazias,o caos da dúvida! Ninguém merece!
E aí?... Abril já vai se acabando... E outono parece que
agora se deu conta de que ele é uma meia-estação... Lembra? A dúvida do século
parecia resolvida, porque aqui no Vale do Paraibuna e adjacências houve ou
‘houveram’ vários amanhãs. Lembra? Eu tava na fila do exame e eu precisava
muito fazê-lo , ainda que não houvesse
resposta completa para...
E se não houver amanhã?... II
Então... Abril se acabando... O outono confirmando
a condição de meia estação, providenciou chuva fina e fria... Eu tava lá na
fila do exame, no PAM Marechal*³... Com
o caos da dúvida reinando em mentes vazias ou nem tanto!
Lembra? E vc. queria
saber se tava tudo organizadinho e funcionando direitinho, não é? Eu ainda não
sabia... Agora eu sei:
─ Estava tudo bem
e correu tudo bem...
Apesar do episódio protagonizado por uma Sra. Nem Tanto...
─ Quem é a Sra. Nem Tanto?
─ Uai, caro(a) leitor(a)... Vc. conhece sim a Sra.
Nem Tanto... Aquela de cabelo
lilás,roupitas, perfume e jóias finas... Aquela viúva de um alta-patente, com polpuda poupança e casas de aluguel...
Pois é...
Ela chegou bem na hora em que a fila estava sendo transferida para dentro da
galeria, porque estava chuviscando. Ela chegou com um apoio, que nunca tinha
usado (não que eu tivesse visto). Ela nos lançou aquele olhar e aquele
comentário discriminatório:
─ Ih! Vê se eu sou gente pra ficar numa fila
dessas...
E saiu em direção à portaria,
onde ela talvez pensasse que seria colocada imediatamente para dentro, devido ao
seu pedigree... Quer dizer... Deve ser pedigree, porque uma das criaturas que
estavam lá frente e parecia conhecê-la muito bem, vociferou:
─ É... Tu não é
gente não... Tu é vira-lata de luxo que invés de pagar um plano de saúde, fica
aqui roubando vaga de quem precisa do SUS-to!*³...
Nisso a Sra.Nem Tanto, que
ia voltando com cara de vira-lata que levou um passa-fora, gritou:
─ Eu tenho
os meus direitos e vou usá-los todos...
E não é que a Sr.ª Toda Cheia de
Direitos tentou se instalar na minha frente:
─
Hei, Sra! – disse eu, em tom mais gentil possível numa hora dessas – A
Sr.ª chegou depois de mim...
Ela ergueu seu apoio em minha direção e:
─ Vc. não
respeita a prioridade de uma deficiente física, não?...
Ah! Gente... A mistura
de sangue de negra mina com calabrês do pós-guerra e uma gotinha goitacás** me
ferveu nas veias. Que me desculpe o Sr. Gentileza*** – que Deus o tenha – mas
se gentileza gera gentileza, esperteza gera o quê? Pois eu ergui o meu apoio em
direção àquela senhora e disse no tom mais rude que pude sacar neste
momento:
─ Mas claro que respeito. Por isso, espero que
a Sr.ª respeite os meus!...
Não houve tempo para respostas pois a fila já
estava andando e o funcionário que distribui as senhas apontou-me a vaga das prioridades. E pasmem, ao pegar o
papel de exame da Sra. Nem Tanto, anunciou em tom de reprimenda:
─ Os exames da
Sr.ª não foram marcados pra cá, não!
─ Mas claro que foram... Que brincadeira é
essa?
─ Brincadeira não, minha senhora... Tá aqui no carimbo – ACISPES*³! E
pelo horário e data, a senhora já perdeu e vai ter que remarcar!
Caro(o) Leitor
(a), foi um daqueles momentos em a plebe
ignara e rudis*2 lava a alma de tanto rir. A digníssima Sr.ª Nem Tanto nem
tinha lido o papel... E ainda se deu ao luxo de arengar com a guarda (no
feminino mesmo) municipal que estava tentando ajudá-la a resolver o problema
enquanto a galera zoava geral:
─ Tão chique a condessa e não sabe nem ler um
papel de exame!
─ Tá precisando de dinheiro de taxi, Madame? A ACISPES*³ fica
lá em São Mateus!
─ Se a senhora quiser... Eu tô vendendo a minha vaga... Mas
eu cobro em dólares, viu?...
Prezado(a)
Leitor(a), não é que ela ainda achou de nos desacatar e ameaçar?
─ Nada com um
dia após o outro! Cês vão ver amanhã! Oh,céus!
Pra que ela foi tocar nisso! Não
é que alguém, lá detrás de outra fila, gritou e suscitou a dúvida:
─ E se não
houver amanhã?...
Então...
Abril já vai se acabando... Agora temos um outono convicto de ser uma
meia-estação... Céu cinzento mesclado de matizes entre o azul, o rosa e o
amarelo. E na última semana: sabadão, domingão, feriadão pra uns e feriadinho
pra outros... Mas na semana passada, na última cena do episódio A Sra. Nem
Tanto versus a plebe ignara e rudis *²,
alguém teria suscitado a dúvida:
E se não houver amanhã?... II
Pois é... No domingão passado, pairava a dúvida nas
mentes e até nos corações paraibunenses e adjacentes e, a pergunta que não
queria calar:
─ E se não houver amanhã?
Nós havíamos beirado o abismo agnóstico
diante da impossibilidade de sequer estarmos existindo... Mas fomos salvos pela
Palavra proferida por uma jovem com o coração ardendo em fé.
E tem mais, fomos
socorridos pelo Autor do Tempo, pois houve (ou houveram?). Ao menos uns 7 amanhãs. Num deles, eu fui fazer exames
no PAM Marechal*³ e fui envolvida no desagradável episódio “A Sr.ª Nem tanto versus
Nós – a plebe ignara e rudis*².
Entre mortos e feridos salvaram-se todos,
inclusive a pomposa Sr.ª que antes de se retirar ainda revelou-nos seus mais
recônditos sentimentos:
─ Por isso que não gosto de pobre. Tomara
que o mundo acabe mesmo e comece
por esta tralha de gente....
Aí não! Não precisava ofender assim. Aliás, quem
estava tentando prejudicar quem? E já não chega a ameaça maia e ainda temos que
aturar praga de senhoras de cabelo lilás e alma incolor? Aí não! Caro (a)
Leitor(a), eu sei que vc. vai tentar me consolar e vai mandar pra mim uma
mensagem de otimismo:
─ Deixa isso pra lá. O mundo não vai mesmo acabar. Esta é
12ª previsão sobre... E além do mais está escrito que “não se sabe nem o dia
nem a hora”².. E tamos em pleno um
feriadão e blá...blá... blá...
Pois é... Era para eu estar bem calminha mesmo
pra ver se abaixo a bola da glicemia em descontrole... Além do mais passou a
temporada de exames, laudos e perícia. E eu fui colocada direto no corredor...
Calma, prezado (a) leitor(a)! Não é o corredor da cadeira elétrica que, graças
a Deus, ao menos esse desmantelo do direito humano não funciona aqui. E o
corredor da aposentadoria! Melhor aguardar porque só em agosto vai se resolver
essa bagaça.
─ Como?... Mas é claro que
devo aguardar!Ih!...
Tô sentindo no ar uma ironiazinha bem típica de senhoras nem
tanto e cia. com uma pitada de pessimismo maia...
─ Tá legal! Por que não devo aguardar? Se não é possível
hoje, será possível amanhã
Ah! Não! Pra
que eu fui tocar no assunto?Eis que por trás das sombras de anteontem me surge
a esfingenzinha, carregada de pegadinhas e máximas populares... Lembra?
─ E o
que o amanhã é o dia que nunca chega pois quando chega já é hoje e o hoje já é
ontem...
E tem mais... Será que chegaremos
em agosto?... E não houver amanhã????
Quer saber? Tô de boa com essas divagações sobre o tempo, os paradoxos
humanos e o anátema maia. Quer saber? Amanhã é feriado, a tarde está
perfeitamente outonal – ventinho frio, céu cinzento e umas rajadas úmidas na
cortina da janela do quarto...
Bom pra ver um filme? Pra ler um livro? Pra
ouvir música? Não! Pra ficar a toa! Sabe
por que?
“De repente ... Não mais que de
repente...”³...O ventinho se transformou em vendaval e as rajadas em temporal! Coriscos varrem os céus de todas as zonas
desta cidade-vale!Tá chovendo pra dedéu! E a luz já piscou três vezes! Oh, não!
Outro apagão? E pra piorar, alguém
gritou lá fora:
─ O mundo está se
acabandôôô! Seraahah?
Bem...Se vc.
estiver lendo essa crônica...
*¹ -
Logradouros - Monte Castelo – bairro da
Zona Norte; Juiz de Fora e pequenas cidades da Zona da Mata Mineira; Fábrica de
Tecelagem Santa Cruz – uma das mais importantes do parque industrial da
Mancheste Mineira como era conhecida JF até o final dos anos 70;
*² -
Expressões populares: DM 2 – diabetes mellitus tipo 2; meganha – expressão
popular usado nos anos 60 e 70 pra designar policiais e militares; casa da mãe –joana
: designação popular dee casa e lar sem organização; expressão latina que
designa a população pobre na antiga Roma;
*3-
instituições: PAM Marechal – centro de
atuações de especilistas do SUS – Sistema Único de Saúde; Agência Central dos
Correios – todos na Rua Marechal, no centro de JF; ACISPES – Assoiciação das Cidades Pés de Serra para Saúde - consórcios de colaboração na saúde de várias
cidades mineiras, quet em uma das sedes no bairro São Mateus- JF.
**
- negra mina- um dos tipos da raça negra em MG; italianos do sul da Itália que imigraram em
porção considerável para JF no final da
2ª Guerra Mundial; goitacás – tribo de índios entre os estado de MG e o
de RJ,, na Mata Atlântica;
*** -
Sr. Gentileza, ou Profeta Gentileza – como ficou conhecido José Datrino,
personagem urbano que deixava mensagens escritas nas ruas da cidade do Rio de
Janeiro e que pregava a gentileza com o princípio básico da convivência;
“ 1 – “c’est
ne pás um pays serieux” – frase do estadista francês Charles De Gaulle;
“ ² - “
Vigiai, pois, que porque não sabeis nem o dia nem a hora.” – Mateus 25:13;
“³ - Versos do poeta Viniícius de Moraes.
Izabel Cristina Dutra –
escrito e reescrito em JG/MG entre os dias 28 e 30 de abril de 2012.
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