Aí... era o 5° dia UTI de não sei que mêsl.... Não sei
mais pra quem não sabe também, era daqueles dias que Juiz de Fora e adjacências
e microrregião (quer dizer, micro é modo dizer, porque segundo um professor
colega meu diz que chega a de 180
municípios...). Tudo e todos vem para o
coração da cidade – o Calçadão! –
para consultar, receber e pagar, comprar
e vender e dar e sofrer golpes... e zuretar!!! Pois é ... Num dia como esse dia,
eu não tava lá mas elas tavam! E Ela me contou:
As mães
e a menina da mãe
( Ou, um causo de mãe
de improviso e, de recurso de Deus...)
Eu não tava lá... mas Ela tava... Ela? Ah... Uma senhorinha
da cabeça branquinha, franzininha... Me lembra uma certa irmã em Cristo...Ela mora no Morro da Glória*, acho né... E
se chama Vitória, acho né... Pois é... Ela me contou...
─ Sabe naquele lugar onde, naqueles dias úteis ou inúteis, o rio de gente do Calçadão* desagua no mar de
gente da Avenida do Barão* e, provoca uma pororoca e depois inunda o Parque,
o do dr. Halfeld*?
Pois é... Foi num dia
como estes que ela salvou da morte certa
a mãe e a menina da mãe.
Essas, eu cá nunca vi, mas sempre conheci... A mãe, seca
e magra, com a castigada pele negra
ressecada e os cabelos crespos despenteados e assustados... A menina, sequinha
e magrinha, com a aveludada pela negra e as trancinhas crespas bem cuidadas,
presas com tererês coloridos, que eu acho lindôs... Não sei o que
vc. acha ...
Pois é... Elas vendem coisas no sinal, no ponto de ônibus,
na fila de banco...
Aí ... Enquanto ela me contava com tantas cores, tantos
sons, um filme passou na tela de minha alma ...
E
eu, que nem tava lá, acabei estando e
presenciando, senhores!... Vendo e
vivendo tudo e, com detalhes!...
─ A mãe e a minina da mãe tavam atravessando a Avenida
do Barão, fugindo do rapa do Calçadão*...
Pois é... Elas queriam se esconder no Parque*,
na sua multidão de cores, de sons, de luzes e, de gentes... Todos filhos de
alguma mãe, com certeza!... Mas o sinal abriu... A mãe atravessou, mas a menina
ficou...
E, a mãe chamava em vão e, a menina não sabia se ia ou não ia!... A senhorinha gritava: ─ Num chama não! Deixa o
sinal fechar!
Mas a mãe não pensava .. Só via o rapa chegar e pegar a sua
minina! ... E a morte rondava iminente, pois carro de avenida nunca vê a
gente!!! Foi então que a senhorinha
gritou:
─ Valha me Deus e envia os Anjos teus!
E Deus fez o quê? Ele enviou!... Eles!...Os moços do
sinal fechado: os dos malabares de fogo!..
Eles não ficam normalmente ali... Elas ficam lá, onde Avenida do Barão* cruza
com a Avenida dos Democratas*... Mas como foram aparecer ali?...
─ Não sei!...
Só sei que foi assim!..*¹
Então...Eles apareceram lá e, tomaram de
assalto a faixa quente de asfalto... E fizeram carro frear, moto voltear e
coletivo se sacolejar, malabareando a Vida... No tempo certo da senhorinha
abraçar a menina, tão franzininha quanto ela e, atravessar pra a faixa segura
do lado de lá...
Eu não tava lá mas acabei estando e, abraçando e, sentindo as suas
mãozinhas trêmulas nas minhas... E o meu
olhar se encontrando com aquelas duas jabuticabas brilhantes... E dando um abraço
gostoso, no final da aventura: mãe, minina da mãe e a outra mãe!...
Eu não tava lá mas ela tava e do jeito que me me contou, eu vi e vivi aquele
momento lindô!...
Naquele 5º dia, hipermega útil – eu, mãe, menina, senhorinha,
ouvinte e, vivente – a gente se salvou!... Foi Ela quem me contou e depois,desceu bem ali no Morro da Glória*... Dando tchauzinho pra mim, pro motorista e pro trocador...
─ Tchauzinho ,D.
Vitória, Mãe de improviso e, de recurso
do Deus Salvador! E Feliz Dias das Mães, em qualquer ano, em qualquer mês e, em qualquer Dia!
* - Referências a
logradouros públicos da cidade de Juiz de Fora/MG, respectivamente: adjacências
da Paróquia de Nossa Senhora da Glória, Calçadão da Rua Halfeld e do Parque
Halfeld, Avenida Rio Branco, Largo do
Riachuelo e Avenida dos Andradas;
*¹ - bordão de personagem do filme “ O Auto da Compadecida”,
baseado na obra de Ariano Suassuna(João Pessoa/PB,1927),poeta, dramaturgo e
romancista brasileiro.
Izabel Cristina
Dutra – escrito em JF/, 2010 e reescrito em 11/05/2014.
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