domingo, 11 de maio de 2014

Elas&Eles&Eu...

Aí... era o 5° dia UTI de não sei que mêsl.... Não sei mais pra quem não sabe também, era daqueles dias que Juiz de Fora e adjacências e microrregião (quer dizer, micro é modo dizer, porque segundo um professor colega meu diz que  chega a de 180 municípios...).  Tudo e todos vem para o coração da cidade – o  Calçadão! – para  consultar, receber e pagar, comprar e vender e dar e sofrer golpes... e zuretar!!!  Pois é ... Num dia como esse dia, eu não tava lá mas elas tavam! E Ela me contou:
As mães  e a menina da mãe 
( Ou, um causo de mãe de improviso e, de recurso de Deus...)

      Eu não tava lá... mas Ela tava... Ela? Ah... Uma senhorinha da cabeça branquinha, franzininha...  Me lembra uma  certa irmã em Cristo...Ela mora no Morro da Glória*, acho né... E se chama Vitória, acho né... Pois é... Ela me contou... 
      ─ Sabe naquele  lugar onde,  naqueles dias úteis ou inúteis,  o rio de gente do Calçadão* desagua no mar de gente da Avenida do Barão* e, provoca uma pororoca e depois inunda o Parque, o  do dr. Halfeld*? 
      Pois é... Foi num dia como estes que ela salvou da morte certa  a mãe e a menina da mãe. 
      Essas, eu  cá nunca vi, mas sempre conheci... A mãe, seca e magra,  com a castigada pele negra ressecada e os cabelos crespos despenteados e assustados... A menina, sequinha e magrinha, com a aveludada pela negra e as trancinhas crespas bem cuidadas, presas com tererês coloridos, que eu acho lindôs...  Não sei o que  vc. acha ... 
      Pois é... Elas vendem coisas no sinal, no ponto de ônibus, na fila de banco... 
      Aí ... Enquanto ela me contava com tantas cores, tantos sons,  um filme passou na tela de  minha alma ... 
      E eu, que nem  tava lá, acabei estando e presenciando, senhores!...  Vendo e vivendo tudo e, com detalhes!... 
      ─ A mãe e a minina da mãe tavam atravessando a Avenida do Barão, fugindo do rapa  do Calçadão*...  
     Pois é... Elas queriam se esconder no Parque*, na sua multidão de cores, de sons, de luzes e, de gentes... Todos filhos de alguma mãe, com certeza!... Mas o sinal abriu... A mãe atravessou, mas a menina ficou... 
     E, a mãe chamava em vão e, a menina não sabia se ia ou não ia!...  A senhorinha gritava:      ─ Num chama não! Deixa o sinal fechar! 
     Mas a mãe não pensava .. Só via o rapa chegar e pegar a sua minina! ... E a morte rondava iminente, pois carro de avenida nunca vê a gente!!!  Foi então que a senhorinha gritou: 
     ─ Valha me Deus e envia os Anjos teus! 
      E Deus fez o quê? Ele enviou!... Eles!...Os moços do sinal fechado: os dos  malabares de fogo!.. Eles não ficam normalmente ali... Elas ficam lá, onde Avenida do Barão* cruza com a Avenida dos Democratas*... Mas como foram aparecer ali?... 
      ─ Não sei!... Só sei que foi assim!..*¹   
      Então...Eles apareceram lá e, tomaram de assalto a faixa quente de asfalto... E fizeram carro frear, moto voltear e coletivo se sacolejar, malabareando a Vida... No tempo certo da senhorinha abraçar a menina, tão franzininha quanto ela e, atravessar pra a faixa segura do lado de lá... 
      Eu não tava lá mas acabei estando e, abraçando e, sentindo as suas mãozinhas trêmulas nas minhas... E o  meu olhar se encontrando com aquelas duas jabuticabas brilhantes... E dando um abraço gostoso, no final da aventura: mãe, minina da mãe e a outra mãe!...  
      Eu não tava lá mas ela tava e  do jeito que me me contou, eu vi e vivi aquele momento lindô!... 
       Naquele 5º dia, hipermega útil – eu, mãe, menina, senhorinha, ouvinte e, vivente – a gente se salvou!... Foi Ela quem   me contou e  depois,desceu  bem ali no Morro da Glória*... Dando tchauzinho pra mim, pro motorista e pro trocador...  
     ─ Tchauzinho ,D. Vitória,  Mãe de improviso e, de recurso do Deus Salvador! E Feliz Dias das Mães, em qualquer ano, em qualquer mês e, em qualquer Dia!

* -  Referências a logradouros públicos da cidade de Juiz de Fora/MG, respectivamente: adjacências da Paróquia de Nossa Senhora da Glória, Calçadão da Rua Halfeld e do Parque Halfeld, Avenida Rio Branco,  Largo do Riachuelo  e Avenida dos Andradas;
*¹ - bordão de personagem do filme “ O Auto da Compadecida”, baseado na obra de Ariano Suassuna(João Pessoa/PB,1927),poeta, dramaturgo e romancista brasileiro.

 Izabel Cristina Dutra – escrito em JF/, 2010 e reescrito em 11/05/2014.

Nenhum comentário:

Postar um comentário