segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Quando há o silêncio...


Então... 2ª feira... Uma leseira... Um silêncio...  Gente indo ao posto de saúde buscar remédio...Crianças  indo pra aula... Mãe e pai correndo pro trabalho...  Vó e vô aposentados recebendo salário... Tudo bem, gentem?... Não!... Não... 
"...Quando há silêncio... no interior  do silêncio...”¹ 
[ ... um outro silêncio!...]

     Então... 2ª feira... Uma leseira... Um silêncio... Crianças na aula... Mãe e pai correndo pro trabalho...  Vó e vô aposentados recebendo salário...  E ainda por cima hoje é Dia do Comerciário!! Nossa, então o comércio tá fechado? Tudo bem, gentem!...  Supermercados e mercadinhos não fecham nunca! Nem feiras! Calma! Tudo bem, gentem?! Não!...  
    Não quando há um  outro silêncio no interior do silêncio!... 
    ─ Pera aí, Dona Izabel... Que siilêêncio?! A  Sra. tá chamando essa algazarra de criança, na praça, de silêncio?! E este povo, que desce pro trabalho, falando sem parar, de manhã cedo? E esta máquina de lavar  da vizinha batendo roupa sem parar? E este sabiá trinando, de tudo quanto é jeito feito doido desde 5hs. da manhã é silêncio?! E mais,estas cambaxirras chilreando no meu telhado?  E estes pardais, estes canarinhos catando migalhas na minha mesa? E estes bem-te-vis, estas maritacas e etc. fazendo candonga até o entardecer? E estas pombas e rolas-caboclas arrulhando no meu quintal? São tudo silenciosos?*¹ 
    É... Caríssima(o) Leitora/Leitor: O meu enteado, carioca da gema, que vem nos visitar, disse que sim:
    ─ Nossa! Que silêncio! Não sei como vcs. aguentam morar num lugar paradão assim! 
    É... Amiga(o), bem que tentei argumentar  que “silenciar permite ao espírito captar energias”¹, que “silenciar é uma arte”¹!!! ... Mas toda vez que ele vem aqui não se conforma com o que batizei de “ o silêncio dentro do silêncio” do seu Carlito e do Monte Castelo! 
    Pois é... Talvez ele não goste e  vc. também não entenda mesmo... Mas hoje, há um outro silêncio no interior deste silêncio... Um silêncio de morte, um silêncio de vidas ceifadas...     
   Não! Não  foi a minha filha, nem o seu filho... Mas  foram os filhos deles... Se de “...olhos cerrados vemos, além do azul do firmamento, o renascer de um novo dia...”¹, com  os olhos bem abertos vemos as manchas de sangue e o palco da festa desmontado... E o morrer de novas vidas... 
  “Quando a  toda natureza dorme há um silêncio que canta...”¹ Mas quando toda  humanidade mata, há um silêncio que chora...O silêncio que canta traz “ ...vida, esperança e beleza...”¹... Mas o silêncio que chora, leva a morte, o desespero e o  horror! 
    ─ Mas do que é que a Sra. Cronista está falando?... Não tô entendendo?...
    ─ Tá sim, cara(o) leitora/leitor! Tá entendendo , sim! Tõ falando do que vc. viu na TV, ao meio dia  e nos jornais da cidade*²... 
  ─ Adolescentes morrem baleados na Festa das estrelas no bairro Monte Castelo e no escadão do Esplanada, na Zona Norte de JF/MG, na madrugada de domingo! 
    Tá entendendo agora, alienadíssima(o) leitor(a)?! Na madrugada de domingo, houve morte e trevas em meio à vida e às luzes! Houve um silêncio de morte!.. 
     Aí... A  festa acabou...  A estrela principal não brilhou! A banda não tocou... A alegria partiu! 
    Mas “silenciar sem omitir é crescer...”¹ Imaginem! A multiplicação das células se faz em silêncio, segundo Carlito Filho (2006)! E neste silêncio, quanta vida se faz!!!
    Mas a multiplicação das idéias se faz com muito.... Mas muito barulho e clamor!... Então embora lá... 
    ─ ♪...  Alô... Comunidade do Monte Castelô! Tá  em cima da hooora! Então... Vamos clamar aos céus ♪... Senhor Deus! Sara a nossa juventude!! 
  Então, instigadíssima (o) Leitora/Leitor...Vamos fazer barulho, pra depois em nome desse silêncio, dentro do silêncio do seu Carlito e do Monte Castelo, possamos “ ...conseguir a  paz  duradoura...”¹ pra mim, pra ti, pros nossos... “pra toda a humanidade.”¹, ainda isso pareça impossível!...*³

“¹ -  Esta crônica é uma paráfrase do poema e do livro de mesmo nome”Quando há o  silêncio no interior do silêncio” de Carlito Filho, mineiro que reside em Juiz de Fora/MG, no bairro Monte Castelo; publicado com o apoio da Funalfa, pela Lei  Municipal de Incentivo à Cultura Murilo Mendes, em 2006;
*¹ - cambaxirra - por assimilação, do tupi: kã bá (preto) + xi...xi... ( onomatopeia de chilrear)   cutipuruí ou corruíra; sabiá-coleira ou da mata - da família dos turdídeos; pardaloca - fêmea do pardal, da família dos ploceídeos; joão-de-barro, da família dos furnarídeos; bem-te-vis,família dos tiranídeos; maritacas, da família dos psitacídeos; canário-da terra,família dos fringilídeos; pomba  e rolinha-cabocla- ave columbiforme da família dos columbídeos que fazem ninhos de gravetos e se adaptam facilmente a ambientes urbanos;
*² - Referência aos telejornais do meio-dia, da TV brasileira e da mídia impressa da cidade de Juiz de Fora/MG; 
*³ - Esta crônica foi escrita em desagravo pelas mortes de Silvio Henrique Balduti Júnior, 13 anos, e Jefferson Luiz da Silva Fernandes,14 anos assassinados a tiros, na madrugada de domingo, nos bairros Monte Castelo e Esplanada, na Zona Norte. JF/MG.

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