Então... 2ª feira... Uma
leseira... Um silêncio... Gente indo ao posto de saúde buscar remédio...Crianças indo pra aula... Mãe e pai correndo pro
trabalho... Vó e vô aposentados
recebendo salário... Tudo bem, gentem?... Não!... Não...
"...Quando há silêncio... no interior do silêncio...”¹
[ ... um outro silêncio!...]
Então... 2ª feira... Uma leseira... Um silêncio... Crianças na aula... Mãe e
pai correndo pro trabalho... Vó e vô
aposentados recebendo salário... E ainda por cima hoje é Dia do Comerciário!! Nossa, então o comércio tá fechado? Tudo bem, gentem!... Supermercados e mercadinhos não fecham nunca! Nem feiras! Calma! Tudo bem, gentem?! Não!...
Não quando há um
outro silêncio no interior do silêncio!...
─ Pera aí, Dona Izabel... Que
siilêêncio?! A Sra. tá chamando essa
algazarra de criança, na praça, de silêncio?! E este povo, que desce pro trabalho, falando sem parar, de manhã cedo? E esta máquina de lavar da vizinha batendo roupa sem parar? E este sabiá trinando, de tudo quanto
é jeito feito doido desde 5hs. da manhã é silêncio?! E mais,estas cambaxirras chilreando no meu telhado? E estes pardais, estes canarinhos catando migalhas na minha mesa? E estes bem-te-vis, estas maritacas e etc. fazendo candonga até o entardecer? E estas pombas e rolas-caboclas arrulhando no meu quintal? São
tudo silenciosos?*¹
É... Caríssima(o) Leitora/Leitor: O meu enteado, carioca da
gema, que vem nos visitar, disse que sim:
─ Nossa! Que silêncio! Não sei
como vcs. aguentam morar num lugar paradão assim!
É... Amiga(o), bem que tentei
argumentar que “silenciar permite ao
espírito captar energias”¹, que “silenciar é uma arte”¹!!! ... Mas toda vez que
ele vem aqui não se conforma com o que batizei de “ o silêncio dentro do
silêncio” do seu Carlito e do Monte Castelo!
Pois é... Talvez ele não goste e vc. também não entenda mesmo... Mas hoje, há um outro
silêncio no interior deste silêncio... Um silêncio de morte, um silêncio de
vidas ceifadas...
Não! Não foi a minha filha, nem o seu filho... Mas foram os filhos deles... Se de “...olhos
cerrados vemos, além do azul do firmamento, o renascer de um novo dia...”¹,
com os olhos bem abertos vemos as manchas
de sangue e o palco da festa desmontado... E o morrer de novas vidas...
“Quando
a toda natureza dorme há um silêncio que
canta...”¹ Mas quando toda humanidade
mata, há um silêncio que chora...O silêncio que canta traz “ ...vida, esperança
e beleza...”¹... Mas o silêncio que chora, leva a morte, o desespero e o horror!
─
Mas do que é que a Sra. Cronista está falando?... Não tô entendendo?...
─ Tá sim,
cara(o) leitora/leitor! Tá entendendo , sim! Tõ falando do que vc. viu na TV, ao meio dia e nos jornais da cidade*²...
─ Adolescentes morrem baleados na Festa
das estrelas no bairro Monte Castelo e no escadão do Esplanada, na Zona Norte
de JF/MG, na madrugada de domingo!
Tá entendendo agora, alienadíssima(o) leitor(a)?! Na madrugada de domingo,
houve morte e trevas em meio à vida e às luzes! Houve um silêncio de morte!..
Aí... A festa acabou... A estrela principal não brilhou! A banda não tocou... A alegria partiu!
Aí... A festa acabou... A estrela principal não brilhou! A banda não tocou... A alegria partiu!
Mas “silenciar sem omitir é crescer...”¹ Imaginem! A multiplicação das células
se faz em silêncio, segundo Carlito Filho (2006)! E neste silêncio, quanta vida se faz!!!
Mas a multiplicação das
idéias se faz com muito.... Mas muito barulho e clamor!... Então embora lá...
─ ♪... Alô... Comunidade do Monte Castelô! Tá em cima da hooora! Então... Vamos clamar aos céus ♪... Senhor Deus! Sara a nossa
juventude!!
Então, instigadíssima (o) Leitora/Leitor...Vamos fazer barulho, pra depois em
nome desse silêncio, dentro do silêncio do seu Carlito e do Monte Castelo,
possamos “ ...conseguir a paz duradoura...”¹ pra mim, pra ti, pros nossos...
“pra toda a humanidade.”¹, ainda isso pareça impossível!...*³
“¹ - Esta crônica é uma paráfrase do poema e do
livro de mesmo nome”Quando há o silêncio
no interior do silêncio” de Carlito Filho, mineiro que reside em Juiz de Fora/MG,
no bairro Monte Castelo; publicado com o apoio da Funalfa, pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura Murilo Mendes,
em 2006;
*¹ - cambaxirra - por assimilação, do tupi: kã bá
(preto) + xi...xi... ( onomatopeia de chilrear) cutipuruí ou corruíra;
sabiá-coleira ou da mata - da família dos turdídeos;
pardaloca - fêmea do pardal, da família dos ploceídeos; joão-de-barro, da
família dos furnarídeos; bem-te-vis,família dos tiranídeos; maritacas, da
família dos psitacídeos; canário-da terra,família dos fringilídeos; pomba e rolinha-cabocla- ave columbiforme da
família dos columbídeos que fazem ninhos de gravetos e se adaptam facilmente a
ambientes urbanos;
*² - Referência aos telejornais do meio-dia, da TV brasileira e da mídia impressa da cidade de Juiz de Fora/MG;
*³ - Esta crônica foi escrita em desagravo pelas mortes de Silvio Henrique Balduti Júnior, 13 anos, e Jefferson Luiz da Silva Fernandes,14 anos assassinados a tiros, na madrugada de domingo, nos bairros Monte Castelo e Esplanada, na Zona Norte. JF/MG.
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