sexta-feira, 18 de maio de 2012

O retorno...


  
Então... Maio veio e já está indo. E na primeira quinzena, o outono assumiu sua condição de meia-estação e depois hibernou. Não sei por que!  Serah que foi por medo dela? ... ELA? Vc. não sabe não? Pois então leia...

O retorno da esfinge* – 2012º episódio - parte I 

     Então... Maio veio e já está indo. E na primeira quinzena, o outono assumiu sua condição de meio-estação e depois hibernou. Ou será... Depois invernou? É porque essa friagem e  essa chuvinha fininha que deixa gotas coloridas nos fios elétricos e
nas folhagens das árvores...
     ─ Isto não é sinal que o inverno enxerido já chegou? 
     Bom... O certo é que a primeira vontade foi ficar em casa... Ainda mais com uma dorzinha enjoada em vários pontos do aparelho locomotor... Mas depois “penso na vida pra levar”¹  e vou resolver um assunto que sou é posso resolver, num dos locais, que penso ser um dos corações alternativos desta cidade-vale e polo... Totalmente polo!!!  
     ─ Sim, caro (a) leitor (a)! Uma cidade assim há de ter seus corações alternativos... Senão o entupimento das artérias urbanas há de ser irreparável... 
     Pois então, eu estava lá no tal coração alternativo – entre a Av. do Águia de Haia e a ponte de Santa Terezinha e um rápida visão do Mané Honório ( como diz uma certa senhora que vem da Zona Rural,  todo o 5º dia útil)**. 
     Lá ia eu devagar, quase chegando, quando numa esquina da rua antes  do sinal de 4 tempos da avenida BRASIL – a  da real de JF e não  a da novela de RJ – antes  da ponte, eis  que elas surgem diante de mim e nos esbarramos. Elas? Irmã Mais Velha  e Caçulinha – a esfinge-mirim* , a que nos ameaça constantemente com enigmas muito mais enigmáticos que o clássico:
      ─ “Decifra-me ou devoro-te? Qual é o animal que de manhã anda com 4 pés, de tarde anda com 2 e à noite com 3?”² 
     Vc. não sabe a resposta não, prezado(a) leitor(a)?... Então, antes de ser devorado(a), escuta o resto do “causo”: 
     Era com certeza uma esfingezinha, não a mesma do outro dia, mas outra bem mais enfeitadinha – cabelinhos repletos de tererês  de Barbie, merendeira de Barbie, sandalinha de Barbie*** e uniforme de algum castelo encantado do pré-escolar. Ela vinha de mãos dadas, quer dizer agarradas, com uma mocinha , Irmã Mais Velha, uma dessas  que têm levar Caçulinha na escola, todo o dia útil do mês. E é claro!... Com que alegriaaah e com que boa-vontaaade fazia isssso! E ainda tinha que impedi-la de causar acidentes e incidentes! 
     Pois é... Uma dessas esfingezinhas atravessou o meu caminho, no momento em que eu me preparava para atravessar  a avenida BRASIL e depois cruzar a ponte – uma  daquelas que a gente tem que cruzar nesta cidade-vale do rio PARAIBUNA... 
     Então... Aquela gracinha de esfinge olhou no fundo nos meus olhos e me propos um dos  enigmas do século: 
      ─ Tiaah!... Cê sabe qual é a melô do bicho papão? 
     Ah! Leitor (a) preferido(a) do meu coração, vc. não sabe a resposta não? Pois só vai saber depois... Porque agora eu vou dormir que o remedinho já está fazendo efeito... Até amannnn... ...

Então... Maio já tinha vindo e já estava indo.  Lembra? E na primeira quinzena, o outono assumiu sua condição de meia-estação e depois hibernou .Lembra ?. Eu não sabia por que!  E vc. também não. Lembra?  Serah que era por medo dela? ... ELA? Vc. não sabia não!  E aí vc.leu mas não ficou sabendo de tudo. Quer saber? Pois então leia...

O retorno da esfinge* – 2012º episódio- parte II 

     No episódio anterior... Vc. leu que o inverno enxerido e apressado tinha ousado dar as caras, antes do tempo certo, e obrigado o outono a hibernar.E eu saí de casa, por necessidade. E se pudesse nem iria porque, em dias frios, tem aquela dorzinha em vários pontos... 
     Mas eu fui e havia esbarrado em Caçulinha e Irmã Mais Velha... E até hoje não sei quem levou quem pra escola... O que sei de certo é que Caçulinha, a esfinge-mirim*, me lançou um dos enigmas do século: 
     ─ Qual  é a melô do bicho papão? 
     Eu sabia... Claro que sabia... Que mãe e professora seria eu  se não soubesse de cor e salteado a melô do bicho-papão!... 
     ─  ... Bicho-papão sai de cima do telhado ...
     ─  Nããão!... 
     ─ ...Não tenha medo do bicho-papão...
     ─ Nãããuuummm!...
     ─ ♪...Bicho-papão, o pai da criança te manda surrar?...  
     ─ Naninannãuuuum!... 
     Ou seja, queridíssimo (a) leitor(a), eu pensava que sabia a resposta deste  enigma proposto por mais esta esfingezinha do séc. XXI! Não sabia nããoummmm! 
     Vc. sabe? Tem certeza? Pois Ela – a Caçulinha  sabia e atirou-me o refrão na lata: 
      ─ ... “Lêrêlê...Lêlêlê... Se eu te pegar vc. vai vêêê... Lêlêlê...”³ 
      ─ Oh! Não!Oh! Vida!... 
      Sim, incomparável leitor (a)! Esta é a melô do bicho-papão do séc.XXI! Tá pensando no que eu tô pensando, amadinhos (as)?! 
      Sim! Estamos diante de um fenômeno cultural nunca dantes visto: o advento do eletroforró (ou da balada sertaneja) acaba de alcançar o universo lírico e mitológico infantil!  Isto me instiga a questionar: 
     ─ Então o que Lobo Mau cantará a Chapeuzinho Vermelho?  
     ─ ...Ai...Ai...Se eu te pego...”³? 
     ─ E que o Príncipe Encantado o que dirá melodiosamente, enquanto vai  ao encontro de sua amada Rapunzel? 
     ─ “... Por isso, vou  na  torre  dela, aiiai... Tá me esperando na janela, aiiai...”³? 
      E em sendo assim... E se a moda pega,  toda  esta força estranha no ar pode impregnar  o universo das novelas de cavalaria e quiçá de  toda  a mitologia greco-romana...
      ─ O que Rei Arthur vai cantar pra a linda Guenevere? 
      ─ “.. Você não vale nada, mas eu gosto de vc.....”³? 
      ─ E  o que Medeia esganiçará para Jasão, antes de cometer seu desatino? 
      ─ “... Ex-my love! Huhumhumm... Ex-my-love! Huhumhummm...”³? 
      Imaginem, Srs. (as), as Sombras da Morte perseguindo Orfeu e Eurídice, dançando e cantando:
      ─"♪...Oioiioi... Oioiioi... Vem dançar comigôôô!...”³? 
      Espantadíssimo (a) leitor (a), não se acanhe em dizer que é imaginação fértil demais. A minha filha já me diz isto todos os dias. E saiba que eu entrei no túnel do tempo, e com certeza, resvalaria pelas pirâmides egípcias até a Pré-História, se Irmã Mais Velha não me acordasse, com uma estridente advertência:   
     ─ Charleynne Regynna*¹, para de ficar cantando besteira  e rebolando desse jeito na rua, perto dos outros... Vou contar pra mamãe, hein...! 
     Isto bem na hora em que o sinal abriu e nós atravessamos a margem direita do rio Paraibuna, bem na avenida BRASIL ( a da real, não da novela). 
     E dali pra frente a esfinge-mirim* foi sendo arrastada pela ponte afora, mas cantando e requebrando... Lêrêlê ... lêlêlê... Cantando e requebrando... Lêrêlê...lêlêlê... Até que... Humm, amadinhos (as), vcs. estão doidinhos (as) pra saber  o fim deste “causo ,não é?... Amanhã eu conto.... Boa noooii...

Então... Maio já tinha vindo e já estava indo.  Lembra? E na primeira quinzena, o outono assumiu sua condição de meia-estação e depois hibernou.Lembra ?. Eu não sabia por que!  E vc. também não. Lembra?  Serah que era por medo dela? ... ELA? Vc. não sabia não!  E aí vc.leu e ficou sabendo de tudo.  Menos como termina este causo.Quer saber? Pois então leia...

O retorno da esfinge* – 2012º episódio- parte III

      Nos episódios anteriores... Vc. havia lido que eu tinha esbarrado em  Charleynne Regynna*¹ – a Caçulinha  – e  Irmã Mais Velha, cujo nome de batismo ignoro até hoje. E que Caçulinha havia me proposto um enigma e que eu tinha descoberto que um big-sucesso do eletroforró ( ou da balada sertaneja) havia invadido o faz-de-conta. 
      Vc. também se espantou com a possibilidade de termos  uma nova trilha musical para contos infantis e, mais ainda havia sérios riscos da efervescência tecno-rural  brasileira   atingir a pré-história, via minha imaginação! Não é?...  E  vc. arde de curiosidade para saber o fim deste causo. Não é?...  
     Pois é... Então... Depois de ter atravessado a tal ponte, Caçulinha, cantante e requebrante, quase nos mata de susto, fingindo que ia atravessar a margem esquerda do rio, na avenida BRASIL – a da real e a da novela – com o sinal aberto.   
     ─ Foi brincadeirinhaaah! 
     Sinal aberto, atravessamos rapidinho e Irmã Mais Velha acelerou o arrastão de Caçulinha, pra escola. Eu parei assim que avistei a fila do banco, e elas seguiram seu caminho. A primeira, firme na tarefa árdua de levar irmã mais nova pra escola, sem acidentes e incidentes... E Caçulinha ainda deu canja,cantando e requebrando pra a plateia improvisada, requebrando e cantando:
     ─♪... Lerêlê... Lêlêlê... Se eu te pegar vc. vai vêêê...  "
     E assim foi sumindo, na neblina fria que voltara a cair... Ainda bem que faltava pouco pro banco abrir. 
     Mas antes, devo-lhe avisar que o incidente da cantante e requebrante esfinge-mirim* não passou despercebido, aos usuários da fila bancária nossa de cada dia. Não, caro (a) leitor (a)! Houve até  manifestação notória de ponto de vista: 
    ─ Essas crianças de hoje!!! – falou rindo  uma dessas avós que não compreendem mas aceitam os nossos tempos tão diferentes do dela.
    ─ Isto é falta de um corretivo severo – ranzinzou um certo Sr. Nem Tanto que não sei de que tempo é. 
    ─ Mas vai corrigir o quê e como? – intrometeu-se uma Srta.Toda fashion  e de piercing no nariz e no umbigo, com certeza uma beldade de 2012  É  o mundo... é o nosso mundo!...      
     Ah! Pra quê... O  Sr.Nem Tanto, que bem tinha dado umas olhadelas bem assanhadas na tal Srta., elevou a voz e as sobrancelhas e afirmou pra que todos ouvissem, se exibindo todo:  
     ─ Pra corrigir maus modos, é só enfiando o couro!... 
     Ah!  Indignadíssimo (a) Leitor (a),  isto deitou  fervura na mistura  de Maria da Cruz+ italiano calabrês+ uma gotinha de goitacás#que corre em minhas veias!... Mas não precisei nem abrir  a minha boca, pois uma Sra. de Língua Afiada soltou um  brado retumbante*²: 
    ─ Se bater corrigisse alguém, a cadeia não tava cheia de bandidos, porque lá tem bocado de gente de lombo quente... 
     E já ia se instalando mais uma polêmica  de fim de mundo, quando o banco abriu e  um rapaz Pode Contar Comigo deu as senhas da prioridade... O resto que aguardasse. Ainda mais que agora tem cadeiras... Não pra todo o mundo...  
     Então.. Foi assim que terminou a minha aventura em dia de urgências, e... Hum? Como?... Vc.não sabe quem é o Sr. Nem Tanto, nem a Srta. Toda Fashion, tão pouco a Sra. Língua Afiada... Mas vc. conhece o rapaz Pode Contar Comigo? Não é?  
     Bem ... Isto é um outro “causo”... A gente fala disso depois... Depois... Porque agora eu já tô na casa do João Soninho... Deeepoooiiisss...

*-  Para saber mais, leia no mesmo blog : Aquele  último domingão 99% bissexto I,II  e III;
     ** - Av. Rui Barbosa (Águia de Haia, título recebido por este escritor pensador e político brasileiro quando este participou da II  Con -ferência da Paz,1907) ), Santa Terezinha (Teresa de Lisieux, canonizada em 1925 pelo Papa XI) e Manoel Honório (notório comerciante  e morador da área que é hoje um dos bairros comerciais e residenciais de JF ): nomes de bairros e logradouros comerciais da Zona Leste de JF;
     *** - Barbie:  modelo de boneca que virou coqueluche nos anos 80 e 90;
    *¹- Charleyenne Regynna – referência às grafias complicadas dos nomes da crianças dos anos 2000.
    *² - “brado retumbante” – expressão do Hino Nacional Brasileiro
 “¹-   “depois penso na vida pra levar... “  verso da música “Cotidiano” - Chico Buarque.
   “ ²-  A resposta é o ser humano, que engatinha na infância, depois põe-se em pé quando adulto e na velhice se ampara num cajado ou bengala;
   “³ -  refrões de músicas dos gêneros eletroforró, balada sertaneja e tecnobrega,  que estão fazendo sucesso nas rádios e TVs  e na "nigth" de todo o Brasil;
   # referência  à diversidade étnica da autora: Maria da Cruz, sua bisavó negra, seu pai italiano e sua tataravó índia.
                                           Izabel Cristina Dutra - Produzido em JF/MG, entre os dias 16 a 20/05/2012.
  

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Se não houver amanhã...


E aí?... Abril já vai se acabando... E outono parece que agora se deu conta de que ele é uma meia-estação... Na semana passada eu também me dei conta do grande paradoxo temporal da humanidade...Lembra?  E  uma grande dúvida assolava  os pensantes  do Monte Castelo e todas vertentes do  Vale do Paraibuna e adjacências... A pergunta que não queria calar era...
E se não houver amanhã?...  I 
     Então... Abril já vai se acabando... Agora temos um outono convicto de ser uma meia-estação... Céu cinzento mesclado de matizes entre o azul, o rosa e o amarelo. E na última semana: sabadão, feriadão pra uns e feriadinho pra outros... 
    Mas na semana passada, uma grande dúvida assolava a mente dos pensantes do Monte Castelo e todas as vertentes do Vale do Paraibuna e adjacências*¹, e a pergunta que não queria calar: 
     ─ E se não houver amanhã?... 
     É... Caro(a) Leitor(a)... Estávamos todos à beira de um abismo filosófico! Exceto, Dona Pombinha Rola que se contentava em arrulhar: 
    ─  Amanhãeuvooou! 
    Fato que irritava uma certa dona de casa que arengava o tempo todo com o marido: 
    ─  Amanhã... Amanhã... Tudo pra vc. é amanhã! 
    Lembra? Pois é... Acontece que houve o  amanhã... E não foi unzinho só não...
    ─ Houveram vários amanhãs!... – como diria um certo entrevistado de noticiário de TV. 
     E num deles, eu tive levantar às 5hs. da madruga para fazer exames, desses que todo o portador da DM tipo 2*² tem que fazer para controles, para laudos e perícias. Já passava das 6 e meia quando 0 coletivo 602 alcançou a Praça do Largo – aquela que fica entre as Avenidas do Barão e a dos Andradas, a Rua Roberto de Barros e o shopping que já foi fábrica*¹... 
     O Condomínio Monumento ao Exército Brasileiro ou aos Pracinhas demonstrava ocupação máxima na noite anterior, a julgar pelo nº de silhuetas envolvidas em cobertas alternativas, apesar de ter raiado o dia. Alguns moradores já faziam o desjejum – se é que se pode chamar de desjejum uns restos de refeição misturada com fragmentos de papel-alumínio, devorados sob a chuva fria! 
     O escritório informal de consultorias e marketing direto já estava funcionando a pleno vapor! 
     ─ Que escritório é esse?...
     ─ Uai, prezado (a) leitor (a), vc. não sabe?  
     Sabe sim! Aquele onde  só não se vende a mãe, mesmo que seja mãe-joana*², porque isso não se faz nem no Brasil, que “ce n’est pas un pays serieux” ¹
     Ah! deve-se ressaltar que a cabine dos meganhas*²... Ops! A cabine dos Srs. Policiais  estava vazia... Pois é... Aí, eu tava indo fazer exames... 
     E fui! Ao chegar no PAM Marechal*³, a fila estava virando em direção à Agência Central dos Correios*³... E  ambos os lugares a a prioridade só começa a valer da porta pra dentro. 
     ─ E tava organizadinha? E lá dentro funcionado tudo direitinho? 
     ─ Ora, queridíssimo (a) leitor (a), não me faça pergunta difícil!... 
      Ainda mais às sete da manhã, em que pra piorar tudo me surge uma Sr.ª Nem Tanto, tentando furar a fila e lançando comentários e olhares discriminatórios a todos... Sem contar com  a previsão amarga de um apressadinho, lá no começo da fila: 
     ─ Desse jeito, a gente só vai ser atendido amanhã de manhã!  
     E  o pior dos piores,  houve um retardatário que ousou retrucar: 
     ─ E se não houver amanhã? Pronto! Aconteceu de novo... Instalado nas mentes vazias,o caos da dúvida!  Ninguém merece!

E aí?... Abril já vai se acabando... E outono parece que agora se deu conta de que ele é uma meia-estação... Lembra? A dúvida do século parecia resolvida, porque aqui no Vale do Paraibuna e adjacências houve ou ‘houveram’ vários amanhãs. Lembra? Eu tava na fila do exame e eu precisava muito fazê-lo , ainda  que não houvesse resposta completa para...
E se não houver amanhã?...  II   
      Então... Abril se acabando... O outono confirmando a condição de meia estação, providenciou chuva fina e fria... Eu tava lá na fila do exame, no PAM Marechal*³...  Com o caos da dúvida reinando em mentes vazias ou nem tanto! 
     Lembra? E vc. queria saber se tava tudo organizadinho e funcionando direitinho, não é? Eu ainda não sabia... Agora eu sei: 
     ─  Estava tudo bem e correu tudo bem... 
     Apesar do episódio protagonizado por uma Sra. Nem Tanto... 
     ─ Quem é a Sra. Nem Tanto? 
     ─ Uai, caro(a) leitor(a)... Vc. conhece sim a Sra. Nem Tanto... Aquela de  cabelo lilás,roupitas, perfume e jóias finas... Aquela viúva de um alta-patente, com  polpuda poupança e casas de aluguel... 
     Pois é... Ela chegou bem na hora em que a fila estava sendo transferida para dentro da galeria, porque estava chuviscando. Ela chegou com um apoio, que nunca tinha usado (não que eu tivesse visto). Ela nos lançou aquele olhar e aquele comentário discriminatório: 
     ─ Ih! Vê se eu sou gente pra ficar numa fila dessas... 
     E  saiu em direção à portaria, onde ela talvez pensasse que seria colocada imediatamente para dentro, devido ao seu pedigree... Quer dizer... Deve ser pedigree, porque uma das criaturas que estavam lá frente e parecia conhecê-la muito bem, vociferou: 
     ─ É... Tu não é gente não... Tu é vira-lata de luxo que invés de pagar um plano de saúde, fica aqui roubando vaga de quem precisa do SUS-to!*³... 
     Nisso a Sra.Nem Tanto, que ia voltando com cara de vira-lata que levou um passa-fora, gritou: 
     ─ Eu tenho os meus direitos e vou usá-los todos... 
     E não é que a Sr.ª Toda Cheia de Direitos tentou se instalar na minha frente: 
     ─  Hei, Sra! – disse eu, em tom mais gentil possível numa hora dessas – A Sr.ª chegou depois de mim... 
     Ela ergueu seu apoio em minha direção e: 
     ─ Vc. não respeita a prioridade de uma deficiente física, não?... 
     Ah! Gente... A mistura de sangue de negra mina com calabrês do pós-guerra e uma gotinha goitacás** me ferveu nas veias. Que me desculpe o Sr. Gentileza*** – que Deus o tenha – mas se gentileza gera gentileza, esperteza gera o quê? Pois eu ergui o meu apoio em direção àquela senhora e disse no tom mais rude que pude sacar neste momento:   
     ─ Mas claro que respeito. Por isso, espero que a Sr.ª respeite os meus!... 
     Não houve tempo para respostas pois a fila já estava andando e o funcionário que distribui as senhas apontou-me a  vaga das prioridades. E pasmem, ao pegar o papel de exame da Sra. Nem Tanto, anunciou em tom de reprimenda: 
     ─ Os exames da Sr.ª não foram marcados pra cá, não! 
     ─ Mas claro que foram... Que brincadeira é essa? 
     ─ Brincadeira não, minha senhora... Tá aqui no carimbo – ACISPES*³! E pelo horário e data, a senhora já perdeu e vai ter que remarcar! 
     Caro(o) Leitor (a), foi um daqueles momentos em a plebe ignara e rudis*2 lava a alma de tanto rir. A digníssima Sr.ª Nem Tanto nem tinha lido o papel... E ainda se deu ao luxo de arengar com a guarda (no feminino mesmo) municipal que estava tentando ajudá-la a resolver o problema enquanto a galera zoava geral: 
     ─ Tão chique a condessa e não sabe nem ler um papel de exame! 
     ─ Tá precisando de dinheiro de taxi, Madame? A ACISPES*³ fica lá em São Mateus! 
     ─ Se a senhora quiser... Eu tô vendendo a minha vaga... Mas eu cobro em dólares, viu?...
     Prezado(a) Leitor(a), não é que ela ainda achou de nos desacatar e ameaçar? 
     ─ Nada com um dia após o outro! Cês vão ver amanhã! Oh,céus! 
     Pra que ela foi tocar nisso! Não é que alguém, lá detrás de outra fila, gritou e suscitou a dúvida: 
     ─ E se não houver amanhã?...
 Então... Abril já vai se acabando... Agora temos um outono convicto de ser uma meia-estação... Céu cinzento mesclado de matizes entre o azul, o rosa e o amarelo. E na última semana: sabadão, domingão, feriadão pra uns e feriadinho pra outros... Mas na semana passada, na última cena do episódio A Sra. Nem Tanto versus a plebe ignara e rudis *², alguém  teria suscitado a dúvida:
E se não houver amanhã?...  II
     Pois é...  No domingão passado, pairava a dúvida nas mentes e até nos corações paraibunenses e adjacentes e, a pergunta que não queria calar: 
     ─  E se não houver amanhã?    
     Nós havíamos beirado o abismo agnóstico diante da impossibilidade de sequer estarmos existindo... Mas fomos salvos pela Palavra proferida por uma jovem com o coração ardendo em fé. 
     E tem mais, fomos socorridos pelo Autor do Tempo, pois houve (ou houveram?). Ao menos  uns 7 amanhãs. Num deles, eu fui fazer exames no PAM Marechal*³ e fui envolvida no desagradável episódio “A Sr.ª Nem tanto versus Nós – a plebe ignara e rudis*². 
     Entre mortos e feridos salvaram-se todos, inclusive a pomposa Sr.ª que antes de se retirar ainda revelou-nos seus mais recônditos sentimentos: 
     ─ Por isso que não gosto de pobre.  Tomara  que o mundo acabe mesmo  e comece por esta tralha de gente.... 
     Aí não! Não precisava ofender assim. Aliás, quem estava tentando prejudicar quem? E já não chega a ameaça maia e ainda temos que aturar praga de senhoras de cabelo lilás e alma incolor? Aí não! Caro (a) Leitor(a), eu sei que vc. vai tentar me consolar e vai mandar pra mim uma mensagem de otimismo: 
    ─ Deixa isso pra lá. O mundo não vai mesmo acabar. Esta é 12ª previsão sobre... E além do mais está escrito que “não se sabe nem o dia nem a hora”²..  E tamos em pleno um feriadão e blá...blá... blá... 
     Pois é... Era para eu estar bem calminha mesmo pra ver se abaixo a bola da glicemia em descontrole... Além do mais passou a temporada de exames, laudos e perícia. E eu fui colocada direto no corredor... 
     Calma, prezado (a) leitor(a)! Não é o corredor da cadeira elétrica que, graças a Deus, ao menos esse desmantelo do direito humano não funciona aqui. E o corredor da aposentadoria! Melhor aguardar porque só em agosto vai se resolver essa bagaça.  
     ─ Como?... Mas é claro que devo aguardar!Ih!... 
     Tô sentindo no ar uma ironiazinha bem típica de senhoras nem tanto e cia. com uma pitada de pessimismo maia... 
     ─ Tá legal!  Por que não devo aguardar? Se não é possível hoje, será possível amanhã 
     Ah! Não!  Pra que eu fui tocar no assunto?Eis que por trás das sombras de anteontem me surge a esfingenzinha, carregada de pegadinhas e máximas populares... Lembra? 
     ─ E o que o amanhã é o dia que nunca chega pois quando chega já é hoje e o hoje já é ontem... 
     E tem mais... Será que chegaremos  em agosto?... E não houver amanhã???? 
     Quer saber? Tô de boa com essas divagações sobre o tempo,  os paradoxos humanos e o anátema maia.  Quer saber? Amanhã é feriado, a tarde está perfeitamente outonal – ventinho frio, céu cinzento e umas rajadas úmidas na cortina da janela do quarto... 
     Bom pra ver um filme? Pra ler um livro? Pra ouvir música? Não! Pra ficar a toa!  Sabe por que?  
     “De repente ... Não mais que de repente...”³...O ventinho se transformou em vendaval  e as rajadas em temporal!  Coriscos varrem os céus de todas as zonas desta cidade-vale!Tá chovendo pra dedéu! E a luz já piscou três vezes! Oh, não! Outro apagão?  E pra piorar, alguém gritou lá fora: 
     ─ O mundo está se acabandôôô! Seraahah?  
      Bem...Se vc. estiver lendo essa crônica...

*¹ - Logradouros -  Monte Castelo – bairro da Zona Norte; Juiz de Fora e pequenas cidades da Zona da Mata Mineira; Fábrica de Tecelagem Santa Cruz – uma das mais importantes do parque industrial da Mancheste Mineira como era conhecida JF até o final dos anos 70;
*² - Expressões populares: DM 2 – diabetes mellitus tipo 2; meganha – expressão popular usado nos anos 60 e 70 pra designar policiais e militares; casa da mãe –joana : designação popular dee casa e lar sem organização; expressão latina que designa a população pobre na antiga Roma;
*3- instituições: PAM Marechal –  centro de atuações de especilistas do SUS – Sistema Único de Saúde; Agência Central dos Correios – todos na Rua Marechal, no centro  de JF; ACISPES – Assoiciação das Cidades  Pés de Serra para Saúde -  consórcios de colaboração na saúde de várias cidades mineiras, quet em uma das sedes no bairro São Mateus- JF.
** -  negra mina- um dos  tipos da raça negra em MG;  italianos do sul da Itália que imigraram em porção considerável para JF no final da  2ª Guerra Mundial; goitacás – tribo de índios entre os estado de MG e o de RJ,, na Mata Atlântica;
*** - Sr. Gentileza, ou Profeta Gentileza – como ficou conhecido José Datrino, personagem urbano que deixava mensagens escritas nas ruas da cidade do Rio de Janeiro e que pregava a gentileza com o princípio básico da convivência;
“ 1 – “c’est ne pás um pays serieux” – frase do estadista francês Charles De Gaulle;
“ ² - “ Vigiai, pois, que porque não sabeis nem o dia nem a hora.” – Mateus 25:13;
“³ -  Versos do poeta Viniícius de Moraes.
Izabel Cristina Dutra – escrito e reescrito  em JG/MG entre  os dias 28 e 30 de abril de 2012.